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O Verdadeiro Desafio do Sacerdócio
O Verdadeiro Desafio do Sacerdócio

Quando as pessoas buscam ingressar na Wicca estão preocupadas com uma coisa só: sua iniciação. Algumas de um ponto de vista menos esclarecido e mais superficial, se preocupam com iniciação porque é um requisito, do tipo que é  ter diploma de alguma coisa para exercer uma profissão. Outras pessoas, mesmo quando mais esclarecidas, ainda assim estão focadas na iniciação, mas daí já tem uma idéia mais clara sobre a Iniciação ser um processo de transformação de vidas, o marco inicial de uma Vida Sacerdotal.

E as pessoas, mesmo as mais esclarecidas e que vão se tornando praticantes experientes, quando neófitas acham que o desafio maior é conseguir se iniciar. Encaram mesmo o rito iniciático como uma colação de grau, algo que se esgota em si mesmo e da uma qualidade que a pessoa jamais perderá. Será verdade?

Claro que não: o enorme desafio do Sacerdócio se chama CONTINUIDADE, ou seja, você vai mesmo persistir por toda sua vida nessa escolha de ser uma Sacerdotisa ou um Sacerdote? Muita gente, muito entusiasmada nos primeiros anos, começa a perceber que o desafio é grande demais quando as Rodas começam a se acumular.

A primeira coisa que pesa é que SACERDÓCIO É SERVIÇO, contínuo e permanente aos Deuses, com todas as suas qualidades e o máximo de seus esforços. Nem sempre a Deusa exige isso todos os dias, mas muitas vezes exige sim, e por grandes períodos.

Pessoas que têm vocação sacerdotal sabem – ou deveriam saber - que sacerdócio se traduz em serviço. De muitos tipos e maneiras, mas sempre a inequivocamente SERVIÇO. Pode ser somente na sua cozinha ou em grandes ritos públicos, pode ser somente meditando ou tendo vocação para dar aulas... COMO o serviço é feito, somente a Deusa decide e isso muda de tempos em tempos.

Mas há algo que é comum a toda Sacerdotisa e Sacerdote: uma hora repetir os ritos toda lunação e sabbats, manter a roda girando, atender pessoas que nos procuram, servir o tempo todo pesa. A vida pessoal sofre, o laser é deixado de lado, a ócio é sacrificado, a convivência familiar diminui.

E não só o tempo que o Sacerdócio demanda é o problema. Há um problema maior: as vezes a gente desanima. O que antes dava muito prazer – armar altares, preparar feitiços , fazer meditações – não dá mais tanto prazer ou parece um fardo. Tudo fica sem graça, tudo parece difícil e não vemos resultados.

Isso não ocorre só com Dedicados, ocorre até comigo e com gente muito melhor e mais velha na bruxaria do que eu. Sabem por que? Porque “That ‘s Life”.

Porque a Roda da Vida tem CICLOS de desânimo e entusiasmo e nosso Sacerdócio, como TUDO que existe também tem. Uma hora estamos em cima, outra estamos embaixo. Como a Deusa me disse certa vez, não é difícil entendê-la, porque Ela na verdade tem uma só lição A LIÇÃO DOS CICLOS.

Então, quando estamos em baixa de entusiasmo, temos que compreender que é assim mesmo e persistir, porque a Roda vai girar e nos levará a outro ciclo de grande prazer com nosso sacerdócio. Basta esperar e aproveitar as lições e dadivas que o desânimo esconde e que somente ele pode nos revelar... Isto é, SE  E SOMENTE SE  não esquecermos do porquê começamos tudo isso.

Lembra do Chamado? Lembra do dia em que você olhou a Lua e viu nossa Mãe? Quando olhou a árvore e viu o Green Man pela primeira vez? Olhou o Sol e viu o Senhor Chifrudo? Lembra?

Em uma fase muito difícil do meu Caminho, lá no começo, uma noite de esbat eu estava muito triste. Era novembro e eu acabara de sair de um grupo que amava muito e em que estivera alguns anos. Olhei a Lua na minha janela do apartamento, cheia e linda, e as minhas coisa ritualísticas de Ísis sobre a cama esperando o início da celebração do esbat. Há  cinco rodas eu celebrara em grupo, essa seria minha primeira celebração sozinha.

Tracei o Círculo, muito triste, pensando que o meu antigo grupo estava começando o mesmo rito naquele horário.  Fiz os ritos, orações e comecei a meditar. Havia programado meditar sobre o sacerdócio, mas na verdade comecei a ir a uma vida passada , em Roma. Vi a cidade claramente e me vi fazendo compras de frutas em um mercado, acompanhada de outras sacerdotisas do templo de Ísis. Vestíamos linho branco e era escoltadas pela guarda do templo. Lembro do sabor das uvas pretas e pêssegos, lembro do sol brilhando na casca das frutas, lembro com nitidez cada recanto e pessoa  daquele grande mercado.

Depois, a Visão mudou e me vi menina, de uns 11 anos. Vestida de branco, com uma toga curta e acompanhada de mais umas quinze meninas da mesma idade. Entraríamos no Templo pela primeira vez, onde seríamos recebidas como aprendizes e depois noviças. A instrutora nos recebeu no pátio externo, e nos conduziu, mas alguma coisa chamou minha atenção e fui para a direita, enquanto elas entravam com a instrutora. Ao lado do jardim magnífico com um tanque ao centro, estava uma estátua de Ísis Menina. Eu a olhava fascinada, porque achava, com minha visão de criança que Ela era muito parecida comigo mesma. E quando olhei a estátua, quando meus olhos encontraram os Dela, me apaixonei perdidamente, me perdi dentro da imensidão que é Ela...Conheci Ísis pela primeira vez e meu coração se inundou de um amor indescritível, algo sem comparação, sem rivalidade.  Nada podia ultrapassar aquele sentimento. Amei Ísis desde aquele momento e soube que toda minha vida seria dedicada a ela com amor. Não havia para mim mais nem vislumbre de outro modo de viver.

Nessa hora, escutei a Voz de Ísis e ela me disse: “Lembre-se sempre,em todo seu sacerdócio,  e em qualquer vida, que esteja onde você estiver e faça o que fizer a única coisa que importa é que você mantenha no seu coração a consciência desse momento em que você me viu pela primeira vez e me amou. Se ele nortear sua vida, nada pode estar errado. Vocês erram ao se afligir sobre entrar ou sair em grupos. Vocês não estão neles por seu desejo e vontade, mas tão somente porque é o melhor para mim e meu serviço. E seja sozinha ou acompanhada, esteja onde estiver se você mantiver no coração seu amor por mim, nunca errará”.

O verdadeiro desafio do Sacerdócio é esse: seu amor à Deusa e ao Deus vencerá ano após ano os ciclos de desânimo, preguiça, problemas e medo? Você os compreenderá e aceitará serenamente ( mesmo reclamando, porque ninguém é perfeito) como parte de seu serviço e aprendizado? Que cada um responda com sua vida.

Vivendo por Maat,

Mavesper Cy Ceridwen, que também os Deuses conhecem como Mirabilis Cy An Kether

 

Escrito por Mavesper Cy Ceridwen